terça-feira, 16 de março de 2010

CONSCIÊNCIA NEGRA E O PRECONCEITO NO BRASIL

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/c/c4/Rosaparks.jpg/200px-Rosaparks.jpg
1- Rosa Parks, com Martin Luther King-1955 2- Lyndon B. Johnson e Martin Luther King Jr-1964 3- Presidente Barack Obama-2008
“ Rosa Parks se sentou para que Martin Luther King pudesse andar . Martin Luther King andou para que Obama pudesse correr. Obama está correndo para que nós possamos voar . Eu mal posso esperar pelo dia 5 de novembro para dizer “ olá, irmão presidente “ . “ ( Jay-Z, rapper americano ).
( Jornal O Globo, 4 de novembro de 2008, pg. 35 )

No dia 20 de novembro comemora-se no Brasil ( dos 5.561 municípios brasileiros, 269 adotaram o dia 20 de novembro como feriado, segundo levantamento da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial ) o Dia da Consciência Negra. Consciência(1) que ainda inexiste na maioria de nossa sociedade, considerando a não adoção da data na maioria dos municípios brasileiros, o que e demonstra a persistência do racismo(2) e da discriminação(3) no Brasil .
A necessidade de refletir sobre a temática racial, o que inclusive motivou a adoção de leis ( como a 10.639/03 e 11.645/08 ) que visam eliminar o racismo e o preconceito(4) através de medidas educativas, ainda incomodam grande parte da sociedade brasileira, que considera o Brasil uma “democracia racial” (o que é desmentido através de estudos e relatórios de diversos pesquisadores e entidades públicas governamentais e privadas, que demonstram a desigualdade social como fruto do racismo e do preconceito racial) .
Porém é necessário não somente a discussão e a tomada de consciência (conhecimento) sobre o negro, sua história, seu valor e contribuição na construção de nossa sociedade, sobre a eliminação do racismo e do preconceito racial, mas também a adoção de políticas de ação afirmativa para compensar as conseqüências da discriminação da população negra no Brasil. E para tanto, os EUA são um bom exemplo para o Brasil ( apesar de ser alardeado por uma minoria que declara-se anti-racista” que não pode-se comparar a experiência americana com a realidade brasileira ).
Foi a partir da tomada de posição, fruto de lutas e ações não apenas da comunidade negra, mas também das diversas esferas ( principalmente a governamental ) que a sociedade americana pôde experimentar uma mudança em busca da igualdade plena de seus cidadãos . Igualdade que culmina com a eleição do 1º. presidente negro dos EUA. Eleição que é fruto de um ato de coragem de um presidente branco ( Lyndon Johnson ) que consciente da necessidade de construir no seu país uma sociedade igualitária e justa, ousou contrariar as conveniências políticas e assinou em 1964 o Ato pelos Direitos Civis . Podemos ver o fruto desta iniciativa 44 anos depois, quando o 44º. Presidente eleito nos EUA é um beneficiado por este ato ( Barack Obama ), um afro-americano .
E quando será que em nosso país teremos uma plena tomada de consciência e um início de ações práticas que nos conduzam a um novo momento social, e que também se traduza em igualdade de condições e de oportunidades ? De ver no Brasil “O sonho americano“ de Martin Luther King, as lutas dos diversos líderes negros e a coragem da sociedade americana em vencer o racismo e tornar o país na realidade uma “democracia racial” ? Não será agora, seguindo o exemplo dos EUA, a hora de ter coragem e assumir que não é possível perder mais tempo em discussões vazias e partir para ações ousadas e efetivas em busca da eliminação do racismo, da discriminação e do preconceito em nossa sociedade ?
Se as pesquisas estiverem certas, se não chover e se os rios não subirem, o vencedor das eleições presidenciais será ... Lyndon Baines Johnson . Quando assinou o memorável Ato pelos direitos Civis, em 1964 Johnson sabia que estava deixando o Sul e, com isso, muitos dos votos de brancos de várias regiões . “ Nós perdemos o Sul por uma geração “, haveria dito. Para essa geração, o tempo acabou . ... Não sou ingênuo. Racismo existe, e dependendo do assunto – crime, por exemplo – ele pode até aumentar . Mas o país mudou, por causa de personalidades, políticas e ações . Os atos pelos direitos civis da era Johnson fizeram brancos comer com negros nos mesmos restaurantes e dividir os mesmos hotéis. Ações afirmativas acostumaram brancos a ver negros em posições das quais eles haviam sido , por lei, excluídos . Brancos e negros puderam, de fato, trabalhar juntos. Os racistas estavam errados . ( Richard Cohen, colunista do jornal “ Washington Post “ )
( Jornal O Globo, 5 de novembro de 2008, pg. 33 )
Os EUA estão iniciando uma era “Pós-racial”. O Brasil ainda engatinha nas discussões raciais. Os racistas e os anti-racistas estão errados. Devemos não apenas ter consciência, mas agir em busca da igualdade da população negra na sociedade brasileira. Fazer do “sonho americano” de Luther King uma realidade brasileira, tendo como exemplo a vitória de Barack Obama, resultado não apenas da tomada de consciência mas de adoção de medidas práticas e efetivas para eliminação do racismo, do preconceito e da desigualdade .Fazer do 5 de novembro americano um exemplo para o 20 de novembro no Brasil .
Notas :
1 Consciência . sf ( lat conscientia ) – 1- Capacidade que o homem tem de conhecer valores e mandamentos morais e aplicá-los nas diferentes situações . 2- Conhecimento . 3- Percepção imediata da própria experiência; capacidade de percepção geral . ( Michaelis, Moderno Dicionário da Língua Portuguesa )
2 Racismo . sm ( raça+ismo ) – 1- Teoria que afirma a superioridade de certas raças humanas sobre as demais . ( Michaelis, Moderno Dicionário da Língua Portuguesa )
3 Discriminar. ( lat. Discriminare )1- Tratar de modo preferencial, geralmente com prejuízo para uma das partes . ( Michaelis, Moderno Dicionário da Língua Portuguesa )
4 Preconceito . sm ( pré + conceito ) – 1- Conceito ou opinião formados antes de ter os conhecimentos adequados . 2- Opinião ou sentimento desfavorável, concebido antecipadamente ou independente de experiência ou razão . 3- Atitude emocionalmente condicionada, baseada em crença opinião ou generalização, determinando simpatia ou antipatia para com indivíduos ou grupos . ( Michaelis, Moderno Dicionário da Língua Portuguesa )

Jorge Luís Rodrigues dos Santos
Graduado em Letras, Especialista em Estudos Afro-Diaspóricos, Pós-graduando em Gestão Escolar (Orientação Educacional). Professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro. Tutor do Curso Educação para as Relações Étnico-Raciais, da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, Programa de Educação Sobre o Negro na Sociedade Brasileira (PENESB), Pólo UAB Rio das Ostras.

4 comentários:

Σ Paulo disse...

Muito bom sempre levantar essa questão racial no Brasil Jorge, porque realmente o Brasil ainda engatinha em relação a eliminação do racismo. Um povo que tem diversas culturas inseridas na nossa sociedade, não deveria ser racista!

deixo um salve a Martin Luther King, Barack Obama e ao meu ícone na luta racial NELSON MANDELA!

Ótimo artigo Jorge, parabéns!

Ramon Mulin disse...

para combater o racismo, acredito que deve ser combatido da mesma forma que foi "criado"... ao ivés de se falar que preto é pior que branco... utilizando a educação, falar que todos somos iguais, exemplificando a razão de tudo isso... a educação é a base e tem poder para mudar tudo, se todos colaborarem.

Girlayne disse...

De fato, "não há caminhada fácil para a liberdade"(MANDELA,1953); contudo, ainda falta muito para que todos se deem conta que a não-consciência é um ato danoso à sociedade. Temos os direitos garantidos na Constituição Federal de 1988. Do mesmo modo em que vivemos num país onde a democracia é mola mestra das possibilidades de ações de um povo. "A democracia é uma ordem para conviver racionalmente em uma sociedade aberta em que o poder do soberano ou das teocracias foi substituído pelo povo, em que os cidadãos livres decidiam seu futuro como indivíduos e como grupo, guiados pelo que consideram o que é racionalmente conveniente. A democracia supõe uma espécie de consciência ou capacidade reflexiva de caráter coletivo que torna possível, como assinala Giddens (1993), que a sociedade possa pensar a si mesma e buscar o seu destino que está nas mãos dos cidadãos (SACRISTAN, 2002, p.148)". Todavia, 'o Brasil ainda engatinha nas discussões sociais", porque é preciso uma ação mais significativa e efetiva, uma tomada de consciência e uma reflexão menos teórica e mais prática, onde as ações cotidianas seja acima de tudo, ações conscientes, estabelecidadas na práxis dialógica, onde os mecanismos de ação coletiva, estejam pautados nos valores, na ética, nos princípios da humanidade, no respeito às diferenças,à cultura e a constituição de sujeitos. Precisamos ser menos etnocêntricos e mais conscientes frentes as questões da vida.

Ana Lucia Valdomiro disse...

Texto excelente, com marcas profundas em nossa alma , no que diz respeito a se conquistar espaço de liderança num pais ainda de tantas lideranças que negam o potencial do negro.
Fui esta semana a uma conferencia na Associação das ONGs Brasileiras em Sao Paulo e me chamou muita atenção pois a mesas era composta somente por pessoas brancas, assim como eramos somente uns quatro negros participantes. Acho que nem aparecemos, ainda que todos tiverem ideias e ideais para aquele forum. Para refletirmos que falamos e falamos de direiros humanos, mas nao o vivemos na prática.

(E como sempre digo quando eu for grande quero me esmerar para ser como você e sua genial forma de falar e excrever. Igualzinho a vc tio.)