domingo, 28 de fevereiro de 2010

ABAIXO AO CORONELISMO ACADÊMICO

Diante dos fatos ocorridos na instituição essa semana, não pude calar-me diante de tal situação, então pronunciarei-me neste pequeno manifesto.

Infelizmente nessa instituição temos um antigo vício, um vício ultrapassado tanto pelo tempo quanto por instituições concorrentes. A IES encontra-se em um tempo em que renovações e reformas teriam que ser discutidas e aceitas sem muitas ressalvas e reclamações, pois isso é para o próprio bem da instituição e para o crescimento dela. Temos o exemplo da contratação de novos professores de acordo com sua área de formação, e a coisa mais lógica nesse mundo é encaixá-lo em uma aula que seja sobre ou tenha algo diretamente ligado a sua especialização. Porém infelizmente não é isso que acontece, e estão sendo utilizados discursos que estão defasados e vão contra a ética pedagógica. Este ato de autoritarismo por tempo de serviço combinado com atitudes anti-éticas para atingir objetivos chama-se "Coronelismo Acadêmico". Basta nos espelharmos nas grandes instituições e notarmos que renovações são bem vindas, e o trabalho é feito de forma profissional e não pessoal.
No ano passado tivemos a ótima notícia da contratação de professores vindos de municípios com "tradição acadêmica". Logo, nos familiarizamos com tais professores e ambos também eram coordenadores do curso, nada melhor que isso para nosso alívio.

Não, eles não são ditadores, apenas vieram com tradição e metodos diferentes que dão resultados positivos.

Seria interessante se dessemos ouvidos aos seus objetivos: fazer um curso de História de alta qualidade e tentar colocar a IES em uma posição pelo menos paralela à faculdades maiores. Mas infelismente não é tão simples assim, acabam sendo impossibilitados de percorrer o caminho melhor. Há pessoas que não têm o mesmo interesse, preferem dar mais importância a seus interesses pessoais e defender uma ideologia ultrapassada que não se encaixa mais nos moldes da sociedade acadêmica de hoje, preferem dar importância à "culturas pedagógicas" antigas que apenas colaboram para uma má formação de futuros professores.
Como diria a minha amiga Ivana Tavares: "Quando o mar e a rocha brigam, quem sofe são os mariscos." E aqui vai um "toque" para as autoridades da IES, pensem nos mariscos, pensem nos graduandos da faculdade. Deve ser humilhante ver professores ruins no futuro e interligá-los direto à faculdade. A Instituição tem uma grande força para se levantar, temos cursos ótimos, exelentes professores que podem levantar a "moral acadêmica" da mesma. Ou seja, temos a faca e o queijo na mão, porém há pessoas que não querem essa evolução, que preferem, repito: dar mais importância à interesses pessoais e continuar com uma ideologia partidarista no corpo docente.

Da próxima vez que ocorrer a mesma situação, proponho que as reuniões em que professores discordam de algumas decisões tomadas pela coordenação do curso, tenham também a participação dos alunos ou de um representante de turma. Vindo da mesma sala de onde a discussão foi aberta e que pode trazer algumas conseqüências negativas para nossa formação. Assim poderemos conseguir um aval mais rápido, que não atinja de forma negativa à ninguém, nem mesmo à nossa formação.

Eu acredito em melhorias, eu gosto daqui. Eu acredito que tudo pode melhorar se pensarmos de forma mais plausível e lógica.
Pensem nos mariscos. Pensem nos estudantes. Pensem nos futuros professores. Pensem em uma "moral acadêmica" maior. Pensem que estamos em uma cidade emergente, e que devemos crescer junto à ela, porém apoiados no que pode mudar o mundo: a Educação e não o dinheiro.

PENSEM EM UM FUTURO MELHOR!
 
Ramon Mulin
Graduando em História
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Macaé

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

PONTO NULO NO TEMPO




Caros amigos e leitores,

Primeiramente gostaria de confessar que esta é minha primeira incursão no mundo literário, sempre estive do "outro lado", o do leitor, mas não poderia deixar de chamá-los a reflexão ao postar a foto acima, tirada por mim mesmo, em visita a maravilhosa cidade de Tiradentes-MG.
A viagem por si só já nos remete a uma das mais belas páginas da História do Brasil Colônia; a Inconfidência Mineira. Visitando o Museu dos Inconfidentes em Ouro Preto, podemos perceber a riqueza de uma época e principalmente a visão futurista e nacionalista dos inconfidentes. Cidade muito bem preservada e acolhedora deveria ser visita obrigatória aos alunos do curso de História, afinal lá se vive e respira História.
Voltando a foto e ao motivo pelo qual escrevo essas linhas é que, ao visitar a cidade, senti falta de meus amigos e mestres da FAFIMA (Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Macaé). Tínhamos plantado a idéia de um dia a visitarmos numa excursão de fim de semana. Creio que ainda o faremos, pois sinceramente fiquei fascinado com o pouco que pude vivenciar, por que na verdade permaneci apenas 2 horas na cidade.
Ponto nulo no tempo, pergunto em que ano você acha que essa foto foi tirada? Ou nada mais é do que um quadro de época? Deixo a resposta aos devaneios dos leitores. Contudo ao tirá-la tentei capturar um “PONTO NULO NO TEMPO”, e agora compartilho com vocês essa idéia.
Deixo assim meu depoimento e uma reflexão a todos sobre o tema do blog. Onde você estiver caro leitor, pode sim criar um espaço de tempo e viajar até ele vivenciando suas experiências. Convido-os a fazer o mesmo que fiz, pois sem dúvida é uma experiência maravilhosa.
Um grande abraço a todos e principalmente aos meus queridos colegas e mestres da FAFIMA.

Guaracinir de Carvalho
Amante do curso de Historia, autodidata e fotógrafo amador

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

QUANDO O MAR E A ROCHA BRIGAM, QUEM SOFRE SÃO OS MARISCOS


Na volta às aulas da faculdade, estava vivendo um momento de
muitas expectativas. Afinal, orgulhosamente estava entrando no 4° período, e
o semestre prometia grandes aprendizados.
Não me enganei quanto isso, mas infelizmente aqui não me refiro à matéria de História
propriamente dita. O aprendizado se fez  fora das esferas curriculares, ementas, leituras, seminários e  atividades normais do período.
Vi que somos coordenados e direcionados por pessoas que infelizmente
não trabalham de forma unida pelo sucesso do curso recém formado na instituição.
Falta diálogo, humildade,  respeito... Enfim... Falta a tão falada ética.
Então me pergunto, uma faculdade de licenciatura, que se propõe a formar intelectuais, prontos a estarem nas escolas, ensinando , ajudando na construção do caráter das mentes em formação, não deveria dar o exemplo?
Desentendimentos, partidarismos, interesses próprios, egos afrontados  arrastam o curso para  um fraco desempenho e credibilidade  diante de outras instituições.
As grandes, já nos olham como “faculdade de fundo de quintal”
A pergunta é: Quem sai perdendo com isso?  Os mariscos.
Vemos nossos  diplomas desvalorizados no mercado de trabalho.
Não estamos mais vivendo os dias da ditadura, a muito reconhecemos  nossa nação, apesar de tudo, como democrática. Então por que não são ouvidas todas as partes?
Esse seria o primeiro passo para nos tornarmos a vitrine de um ensino privado valorizado, respeitado nas suas bases, construídas a muito na fundação desta que é um patrimônio dessa cidade.

 Fica o aprendizado. Não o das ementas, mas o dos exemplos a não serem seguidos.




Ivana Matos Pinheiro Tavares
Graduando em História
IES: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Macaé

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A FARSA DA ABOLIÇÃO: A HISTÓRIA QUE NÃO É CONTADA


“Lei Áurea: 17 palavras que não bastam” - (Profa. Wânia Santanna)

LEI nº 3.353, de 13 de maio de 1888
LEI ÁUREA
Declara extinta a escravidão no Brasil

A princesa Imperial, Regente em Nome de Sua Majestade o Imperador o Senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súditos do Império que a Assembléia Geral Decretou e Ela sancionou a Lei seguinte:
Art. 1º É declarada extinta desde a data desta Lei a escravidão no Brasil.
Art. 2º Revogam-se as disposições em contrário.
Manda, portanto a todas as autoridades a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nela se contém.
O Secretário de Estado dos Negócios d'Agricultura, Comércio e Obras Públicas e Interino dos Negócios Estrangeiros, Bacharel Rodrigo Augusto da Silva, do Conselho de Sua Majestade o Imperador, o faça imprimir, publicar e correr.

67º da Independência e do Império.
a) Princesa Imperial Regente
Rodrigo A. da Silva
Carta de Lei, pela qual Vossa Alteza Imperial Manda executar o Decreto da Assembléia Geral que Houve por bem sancionar declarando extinta a escravidão no Brasil, como nela se declara.
Para Vossa Alteza Imperial ver.
Chancellaria-mór do Império
Antonio Ferreira Vianna.
Transitou em 13 de Maio de 1888. - José Júlio de Albuquerque
“(...)A escravidão é um assunto envolvente e misterioso, um assunto que desafia a nossa compreensão, que nos enche de raiva e de vergonha.”
“(...)“Ser escravo”, ao longo dos tempos, é sinônimo de violência extrema, de pancadas, de torturas; “escravo” é uma palavra cuja crueldade se aplica mais a uma cor do que à outra. Quase sempre, os escravos são negros; os patrões, brancos. O bairro dos escravos não está muito longe da formação do gueto, nem a escravidão do racismo, chaga purulenta e podre das sociedades atuais.”
Marie Agnès Combesque – Entre guerras e miséria: os escravos de hoje (págs. 5,6 e 7)

O dia 13 de Maio, para a população negra atualmente, é uma data que é sinônimo de tristeza e vergonha. Trazer à memória a “lembrança da escravidão” não é algo que se pretenda comemorar. A Comemoração do dia 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra e possível data da morte de Zumbi, como um dia a ser lembrado como lembrança de luta e resistência, isto sim, é algo a ser comemorado.
Porém, lembranças, tristezas e constrangimentos à parte, é importante olhar de um modo diferente a “Declaração da Abolição”, não apenas do ponto de vista de quem verdadeiramente a proclamou (a Princesa Isabel), como também dos efeitos desta promulgação. Qual foi a real participação dos negros ? Quais eram as verdadeiras motivações para que a lei fosse promulgada? O que mudou para a população negra este novo momento de liberdade?
A Lei Áurea no seu Art. 1º diz: É declarada extinta desde a data desta Lei a escravidão no Brasil. A extinção da escravidão, além de não ser uma “concessão” da autoridade monárquica, não significou também uma mudança da realidade de vida da população negra. A maior parte dos negros, nesta época, já gozava de liberdade, através de seus próprios meios e esforços (compra de alforrias, fugas e revoltas, entre outras formas), e a “extinção da escravidão, antes de atender às necessidades e reivindicações da população negra, tinha outras intenções.
Em primeiro lugar, havia o aspecto econômico: a pressão internacional, que ansiava pela mudança das condições econômicas vigentes na época e ansiando por um mercado consumidor em face da “Revolução Industrial”, forçava o país a caminhar rumo à mudanças em sua estrutura social (o Brasil foi o último país no mundo a extinguir a escravidão).
Em segundo lugar, a extinção da escravidão visava evitar uma mudança política, pois pressionada por reivindicações e pressões do movimento republicano, as autoridades monárquicas tentavam, com a abolição, enfraquecer o movimento republicano e manter-se no poder. Infelizmente, para os monarquistas, em 1889 a república foi proclamada.
A mudança do regime, porém, não se traduziu em mudanças (e melhorias) das condições de vida da população negra. A população que lutara durante anos pela sua liberdade, agora é excluída (e privada) dos seus direitos à cidadania.
“(...) Nas últimas décadas da escravidão, movimentos abolicionistas e projetos de lei foram acompanhados tanto por um processo de fuga em massa de escravos como por intensa mobilização popular, principalmente nas cidades. Essa é uma história que ainda não foi contada. A desigualdade não foi necessariamente inaugurada com a abolição. Ganhou contornos, marcas e argumentos econômicos e científicos Flávio dos Santos Gomes – Negros e política (1888-1937) ( págs. 9 e 10)
“ (...) As primeiras décadas pós-emancipação foram decisivas para os sentidos de liberdade, cidadania e autonomia. A questão parecia ser não tanto quem eram os protagonistas da liberdade, mas sim quais os significados desta. Liberdade para quê?
O que significava ser cidadão, ser integrado ou transformar-se em brasileiro?
Lutar por terra, autonomia, contratos, moradias e salários- e enfrentar a costumeira truculência – era reafirmar direitos, interesses e desejos redefinidos, também, em termos étnicos, coletivos e culturais. Havia muita coisa em disputa. Para a população negra não era apenas uma aposta num futuro melhor, mas o desejo de bancar o próprio jogo. “
Flávio dos Santos Gomes – Negros e política (1888-1937) (págs. 11 e 12)

“(...) Os ex-escravos foram abandonados à sua própria sorte. Caberia a eles, daí por diante, converter sua emancipação em realidade. Se a lei lhes garantia o status jurídico de homens livres, ela não lhes fornecia os meios para tornar sua liberdade efetiva. A igualdade jurídica não era suficiente para eliminar as enormes distâncias sociais e os preconceitos que mais de trezentos anos de cativeiro haviam criado. A lei Áurea abolia a escravidão mas não o seu legado. Trezentos anos de opressão não se eliminam com uma penada. A Abolição foi apenas o primeiro passo na direção da emancipação do negro. Nem por isso deixou de ser uma conquista, se bem que de efeito limitado. “ Emília Viotti da Costa – A Abolição ( pág.14)

E o que representa o 13 de maio para o povo negro hoje? Qual a sua importância? Vale a pena repensar o que representa esta data e de que modo, e isto é o mais importante, esta conquista pode ser continuada, ampliada e não esquecida.
“ Mesmo desmistificada por muitos historiadores, a farsa da abolição da escravatura se configurou nos livros escolares, seja na omissão da luta que desencadeou o ato oficial pondo fim ao escravismo, ou por encobrir, por exemplo, que em 1881, o governo já financiava a vinda de europeus ao país para substituir os negros escravizados. Ou que, em 1888 – ano da abolição – para 107 mil escravos registrados chegaram aqui 90 mil imigrantes da Europa custeados pelo estado brasileiro ocupando o lugar dos escravos, que foram despejados nas favelas e nas periferias das cidades onde seus descendentes permanecem até hoje sem indenização. Ainda assim, o dia 13 de Maio tem sua importância simbólica, não só por aqueles que lutaram e morreram pelo fim do escravismo, mas como registro de como a história pode ser usurpada pelos detentores do poder no Brasil. “
Maurício Pestana – Usurpação Histórica in Revista Raça Brasil (Número 132, Maio de 2009, pág. 7)
O dia 13 de Maio deve ser lembrado e transformado, contemporâneamente num marco da luta que permanece necessária e urgente e que permita não só a abolição da escravatura, mas também a abolição da desigualdade.

Jorge Luís Rodrigues dos Santos
Graduado em Letras, Especialista em Estudos Afro-Diaspóricos, Pós-graduando em Gestão Escolar (Orientação Educacional). Professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro. Tutor do Curso Educação para as Relações Étnico-Raciais, da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, Programa de Educação Sobre o Negro na Sociedade Brasileira (PENESB), Pólo UAB Rio das Ostras.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

PROVOCAÇÕES PARA UM ANO ELEITORAL

Não é das tarefas mais fáceis propor um texto em que o foco esteja voltado para o Tempo Presente, pois trata-se de um terreno instável e o calor dos acontecimentos podem, muitas vezes, nublar a análise, graças as tensões que acabam por envolver nossas experiências, práticas e atitudes tão humanas. É sempre mais difícil escrever sobre aquilo ao que temos pouca distância.
Assim, feitas as devidas ressalvas a possíveis equívocos que possam constar no decorrer deste texto, nos lançamos a esta arriscada empreitada de propor singelas provocações intelectuais.
Este ano que se inicia (de acordo com a crença popular, somente após o carnaval), traz consigo as eleições. O desafio aqui é tentar pensar para além da Copa do Mundo de Futebol, que "coincidentemente" ocorre as vésperas.
Falar em eleições, e conseguintemente em voto, nos remete também a pensarmos no relacionamento estabelecido entre população e a política partidária. Nesse sentido, acredito que muitos reconheceriam como verdadeira afirmação de que esta relação, atualmente, esbelecida em sentimento de desconfiança entre os eleitores e os representantes do Estado.
O que parece se desenhar é uma busca por uma relação mais direta entre o Estado e os indivíduos, à medida que corpos intermediários dessa relação - como sindicatos e partidos, por exemplo - se debilitam, deixando de corresponder aos interesses da população. Reflexos da dinâmica social que merecem atenção.
Tomando emprestadas as palavras de Durval de Albuquerque Júnior, onde afirma que: "Não há evento histórico que não seja produto de dadas relações sociais, de tensões, conflitos e alianças em torno do exercício de poder, de dada forma de organização da sociedade, produto de práticas e atitudes humanas, individuais e coletivas", podemos nos propor a pensar a atual situação estabelecida entre o eleitor e o Estado e seus representantes, para além da perigosa redução da política a questões administrativas ou econômicas.
Alguns poderão argumentar acerca da importância do mercado na vida social e política, ressaltando a globalização como ponto essencial nesta discussão, sinalizando que, para a realização de qualquer tipo de análise deste calibre, o ponto de partida deve ser, indubitavelmente, a perspectiva econômica.
Não temos a intensão de desprezar tal ponto de vista, especialmente por compreendermos que há relevância em tal perspectiva. Não há como desconsiderar a influência da cultura de consumo de massa e seu impacto diretamente na maneira como a população relaciona-se com a politica.Entretanto, apontamos para o risco de que uma análise que apenas adote este tipo de perspectiva possa gerar a sensação cristalização das dinâmicas da sociedade que influem e são influenciadas pela economia, acabando por eclipsar, deste modo, os atores sociais. É importante ressaltar que não há sociedade, economia ou história sem os indivíduos.
É bem verdade que o consumo de massas veio estabelecer um novo relacionamento entre as classes socais, universalizando os desejos de consumo - assim como criando o sentimento de frustração daqueles que encontram-se à margem dessa dinâmica. Entendemos, então, que o consumo passa a fazer parte do contexto político, uma vez que torna-se a grande demanda popular. Ser cidadão passar a ser sinônimo de ser consumidor.
No entanto, estas transformações sociais causadas pela economia do consumo de massas acabam por causar na sociedade uma ausência de um sentido coletivo, um sistema de valores e crenças comuns.
Como afirmam Bernardo Sorj e Danilo Martuccelli, a política democrática se contrói ao redor de um projeto de nação dentro do qual os indivíduos e grupos controem valores comuns de auto-reconhecimento. A coesão social passa a exigir articulações entre estas exigências simbólicas e a economia.
Considerando que todo evento histórico é cultural e simbólico e estes atuam para que se estabeleça uma comunicação entre os seres humanos, sem os quais não haveria economia, política ou sociedade, nem mesmo objeto e sujeito, queremos aqui apontar para o detalhe que as relações tradicionais estabelecidas de forma vertical passam a dar lugar a formas mais horizontais nos mais diferentes espaços sociais, como no trabalho, nas relações de gênero, grupos étnicos, interações públicas com autoridades políticas, e que, deste modo, o verdadeiro motor de um processo democratizador somente seria possível descolado do universo político partidário, das questões puramente econômicas, mas sim, focado na sociedade e na cultura.
Obviamente, esta trata-se de uma provocação. Não temos a empáfia de desejar apontar caminhos ou posarmos como visionários, mas apenas propor discussões e questionamentos, ansiando que esses nunca cessem, pois são o motor de todas as ciências.

Referências:
  • ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval de. A arte de inventar o passado. Bauru, São paulo: Edusc, 2007.
  • SORJ, Bernardo & MARTUCCELLI, Danilo. O desafio latino-americano: coesão e democracia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

Ana Claudia Ribas
Mestre em História do Tempo Presente
Universidade do Estado de Santa Catarina

domingo, 14 de fevereiro de 2010

A FACE OCULTA DA REVOLUÇÃO AMBIENTAL

Os movimentos ambientalistas se dinamizaram no início do século XX. Mas apenas no período pós Segunda Guerra Mundial que veio a se tornar um movimento de escala mundial. Os principais motivos foram:
- As ameaças nucleares;
- Aumento significativo da urbanização em todo globo;
- O constante aumento das industrias;
- Intensivo aumento da poluição.

Hoje com a participação massiva da mídia, o movimento ecológico está ainda maior e com participação política mais intensa. E é exatamente o objetivo principal desse movimento: "participação nas decisões globais". São realizadas várias conferências mundiais para tratar de tal assunto, e a revolução ecológica se tornou tão forte, que as nações que não colaboram ou não aceitam as decisões tomadas para "proteger o planeta" são politicamente excluídas da massa.
É comum diariamente lermos avisos ecológicos e motivações para uma vida sustentável dentro de ônibus, lojas, banheiros, locais públicos ou privados, na tv ou na internet. Alguns desses avisos serão pontos de análise para tirarmos algumas conclusões. Por exemplo:

  1. Compartilhe caronas! Quando um veículo é utilizado apenas por quem dirige... o preço é muito alto para o meio ambiente!
  2. Recuse embalagens em excesso nos produtos que consome e dê preferência às recicláveis, sempre que puder! A energia utilizada na fabricação de uma lata de refrigerante é a mesma para manter a TV ligada por quase 200 horas!

O mundo realmente precisa de ajuda, é até interessante respeitarmos tais avisos. O calor insuportável ou as fortes chuvas de vários dias seguidos são um aviso. Porém alguns dos objetivos desse movimento podem não passar de meras conspirações contra o capitalismo.

Quando compartilhamos caronas, algumas pessoas podem desistir de ter o seu próprio automóvel, logo a industria automobilística venderá menos, os lucros serão menores e colaborarão com uma parcela para o desemprego no mundo; Dessa forma o ex-operário da indústria automobilística não poderá comprar o produto do segundo aviso com uma embalgem, muito menos com várias; Logo a indústria de embalagens poderá também diminuir seus lucros ou até mesmo falir.

Essa figuração motiva os comunistas, e o discurso ecológico torna-se a nova forma de derrubar os modelos capitalistas no mundo, pois como a muito já se vê: O discurso comunista está defasado, são moldes sociais que não se aplicam a sociedade complexa que existe hoje. Os "barbas vermelhas" tingiram suas barbas de verde.
É interessante seguirmos os conselhos para salvar o mundo, porém temos que analisar todas as faces do movimento ecológico e notarmos que nele também há outras intenções além do que é divulgado à sociedade (como em todos os movimentos, sem exceções). A Revolução ambiental esconde um gigante adormecido. O movimento ambientalista dá os seus avisos, mas esconde algumas de suas verdadeiras intenções, que não passam de meros e repetidos passos que já foram dados antes a favor de uma teoria que não se encaixa mais no perfil da sociedade atual.

Ramon Mulin
Graduando em História
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Macaé / Macaé-RJ

sábado, 13 de fevereiro de 2010

A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO E DA CULTURA NO RESGATE, DIFUSÃO E MANUTENÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL AFRO-BRASILEIRO

O Brasil atravessa um momento ímpar de sua história, no tocante à discussão de temas de grande importância para a maioria de sua população, que é afro-descendente. A participação desta relevante parcela de cidadãos nos diversos espaços sociais, a discussão da implementação de políticas de ação afirmativa, destinadas a reparar as desigualdades decorrentes do período escravagista (e não solucionadas adequadamente com a promulgação da Abolição), tem conquistado espaço nas diversas esferas de poder (Executivo, Legislativo e Judiciário), bem como da sociedade em geral (mídia, mercado de trabalho, entre outras).

Segundo a Constituição, no seu artigo 3º, constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Conforme descrito no seu texto-base, que justifica a realização da conferência, (...)o Governo Federal, por intermédio do Ministério da Cultura (MinC), convoca a 2ª Conferência Nacional de Cultura, fórum participativo que reúne artistas, produtores, gestores, conselheiros, empresários, patrocinadores, pensadores e ativistas da cultura, e a sociedade civil em geral, com as seguintes atribuições: (i) discutir a cultura brasileira nos seus múltiplos aspectos, valorizando a diversidade das expressões e o pluralismo das opiniões; (ii) propor estratégias para: fortalecer a cultura como centro dinâmico do desenvolvimento sustentável; universalizar o acesso dos brasileiros à produção e fruição da cultura; consolidar a participação e o controle social na gestão das políticas públicas de cultura; implantar e acompanhar os Sistemas Nacional, Estaduais e Municipais de Cultura e o Plano Nacional de Cultura; e (iii) avaliar os resultados obtidos a partir da 1ª Conferência Nacional de Cultura, realizada em 2005.”
O Brasil, assim como todas as nações do mundo, enfrenta transformações cotidianas em conseqüência de evoluções de naturezas diversas, em todos os espaços e contextos sociais. A criação de novos produtos e bens (culturais inclusive) exige uma ação não apenas promotora e difusora desta produção, mas deve também permitir o acesso e utilização destes bens e produtos, de modo igualitário, por todos os cidadãos, não esquecendo de resgatar, difundir e preservar todo o patrimônio já existente, de modo a enriquecer o seu acervo cultural.
Neste aspecto, cabe ressaltar a importância da Educação, como uma forma de garantir a preservação de todo o patrimônio cultural existente no país. É no espaço escolar que são transmitidos valores e conteúdos que permitem a formação da identidade nacional de cada cidadão. Através da educação, os alunos, nos mais diversos níveis e através de todos os currículos ministrados, podem ter acesso à cultura (história, fatos, personagens, manifestações culturais próprias de sua comunidade, expressões artísticas de diversas naturezas, religiosidade, etc...).
A Educação e a Cultura, aliados em um projeto de resgate, difusão e preservação de todo o patrimônio cultural, revestem-se de um papel de elevada importância. No que diz respeito ao patrimônio cultural afro-brasileiro, em especial, são através de atividades escolares (e a partir da escola) que podem ser conhecidas muitas produções que escapam ao conhecimento da sociedade, em outros espaços. É a escola que permite, muitas vezes, que práticas, valores e conteúdos culturais permaneçam vivos, e sejam transmitidos e preservados (e até mesmo ressignificados), enriquecendo ainda mais a cultura brasileira.
Conforme ressalta Kabengele Munanga1, “por quê as heranças e práticas de origem africana, bem como sua história, não foram incorporadas na educação brasileira ? Apesar de sua importância, a cultura africana não tem sido adequadamente reconhecida, necessitando pois da promulgação da lei 10.639, para que a “identidade negra” possa ser “valorizada, desenvolvida e permeada na sociedade brasileira“ (grifos nossos). E a lei 10.639 estipula:
"Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.
A oportunidade de discutir, na II Conferência Nacional de Cultura, as contribuições da matriz africana na cultura brasileira, demonstra a importância das influências africanas que estão presentes na formação de grande parcela de nossa população. E a realização da Pré-Conferência Nacional de Cultura Afro-brasileira, a ser realizada em Brasília nos dias 24 e 25 de fevereiro, permitirá um aprofundamento das discussões em torno do tema Cultura Afro-brasileira, e a ampliação das vozes que, nos eixos e sub-eixos temáticos a serem trabalhados, compartilharão de seus conhecimentos e visões bem como contribuirão significativamente para o estabelecimento de ações e políticas destinadas a este segmento cultural do país.
Este momento é extremamente significativo para a população afro-descendente, pois, conforme expresso pelo MinC (...) a pré-conferência promoverá o debate e a reflexão do setor e encaminhará propostas de políticas públicas para a cultura afro-brasileira, de forma a contribuir com a formulação de um plano nacional de cultura afro-brasileira, e também para apresentar as propostas do setor para a 2ª Conferência Nacional de Cultura, que acontecerá entre os dias 11 e 14 de março, também na capital federal. Dos nomes escolhidos sairão os 15 delegados e 15 suplentes que representarão a cultura afro na plenária geral da 2ª Conferência Nacional de Cultura (CNC), e estes delegados irão eleger a lista tríplice que vai representar o segmento no âmbito do Conselho Nacional de Política Cultural para o exercício de 2010-2011.
É de fundamental importância a participação de todos nesta empreitada, em especial dos representantes das áreas de Educação e Cultura, que cotidianamente trabalham nos espaços escolares a formação das identidades individuais. Difundem saberes e valores culturais relevantes para a construção de uma sociedade democrática, fraterna e igualitária. Estes agentes sociais devem ser ouvidos e apoiados em suas ações e intervenções, que são também fundamentais para a preservação de um patrimônio cultural nacional.
Nota 1- Dr. Kabengele Munanga – Aula Inaugural Curso de Pós-Graduação em Estudos Culturais e Históricos da Diáspora e Civilização Africana - Funemac – Macaé, 05 de Maio de 2007.
 
Jorge Luís Rodrigues dos Santos
Graduado em Letras, Especialista em Estudos Afro-Diaspóricos, Pós-graduando em Gestão Escolar (Orientação Educacional). Professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro. Tutor do Curso Educação para as Relações Étnico-Raciais, da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, Programa de Educação Sobre o Negro na Sociedade Brasileira (PENESB), Pólo UAB Rio das Ostras.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

VIDA EM SOCIEDADE

Lembro-me bem lá pelos idos dos anos 70, de uma Macaé bem diferente.
O vento fresco rompia pela cidade em dias de verão, onde tornava o caminhar pelas ruas, algo muito prazeroso. Também prazeroso é lembrar que, nesses mesmos passeios, encontrávamos sempre rostos conhecidos, e o trajeto que se pretendia fazer em 15 minutos, durava pelo menos 1 hora, dado a tantos comentários a serem feitos em tais encontros.
Independente das classes, todos desfrutávamos das mesmas praias, das mesmas escolas públicas, do mesmo dia a dia e não se evidenciava tantas diferenças.
Quanta diferença hoje, o progresso chegou à "Princesinha do Atlântico", trouxe consigo riquezas, mas inevitavelmente perdemos a nossa identidade. Fomos invadidos por pessoas de todo o Brasil e também do exterior, um aumento estrondoso da miséria e a inegável degradação da natureza. Perdemos a liberdade de andar pelas ruas despreocupadas, não temos mais o ensino público tão disputado em outras épocas, e lá se foi de nós o prazer dos encontros no fim de semana na praia de Imbetiba. Já não conhecemos mais ninguém na enorme multidão que trafega pelas ruas da cidade. Convivemos com a solidão em meio a muitos. A construção de prédios vem nos privar cada vez mais da brisa fresca do mar e em troca, temos o odor de uma cidade mal cuidada.
Pagamos o preço, alto, muito alto para quem da terra é filho, e pôde conhecer uma cidade que hoje se tornou a utopia de muitos.

Ivana Matos Pinheiro Tavares
Graduando em História
IES: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Macaé