sexta-feira, 2 de abril de 2010

UM DEDO DE PROSA COM O MINEIRO

 Tenho acompanhado de longe a criação das crianças em geral e fico daqui preocupado com o rumo que a moderna educação está tomando. Não sou tão embotado para entender que a vida já não é mais a mesma de antigamente e que as relações mudaram consideravelmente, e assim  ficar alugando meus parentes e amigos  com frases do tipo  “no meu tempo”, não funciona,  mas que a coisa está feia, lá isso está.
Onde foi parar o carinho, o respeito, a educação  com os mais velhos, com as mulheres, enfim com todos?
      Lembro-me bem da época que era estudante no famoso colégio PEDRO II do Rio de Janeiro, e o respeito que tínhamos pelos mestres e diretores é considerado coisa ridícula atualmente. Interessante que, hoje, os pais jogam a responsabilidade da educação para a escola e esquecem que professor dá instrução e os pais deveriam dar educação.
      Na verdade com a modernidade, a tarefa de educar e ensinar virou rotina dos professores.
     Antigamente, a sociedade era mais calma e tranquila, não tínhamos tanta violência, tantas pessoas obesas e com tantos problemas de saúde. Saudades do tempo em que se dava um bom dia para o vizinho,  cumprimentava-se um estranho e da conversa com os amigos, como dizem aqui em Minas “de uma boa prosa”.
     Do tempo em que não tínhamos tanta tecnologia e ficávamos até tarde na rua com  os amigos.
 Não tínhamos internet, MSN e outras pragas virtuais, tudo era combinado ao vivo, ali na presença de todos, conhecíamos cada morador da rua, cada garoto, pelo nome e não pelo Nick name.
     Outro dia estava numa conversa animada com alguns saudosistas também, e um deles falou que a culpa era das mulheres, que no ano de 1969, foram às ruas e às praças e queimaram seus sutiãs em sinal de protesto.   O que na verdade acabou não acontecendo, pelo menos não na mais famosa manifestação sobre o assunto. Lembro-me bem de que esse assunto fora discutido na época em que fazia o curso de História na Faculdade de Filosofia e Letras de Macaé – FAFIMA ano passado. De tanto ler e pesquisar tinha chegado à conclusão de que realmente o movimento feminista teve seu apogeu naquela época, afinal depois de séculos de opressão, chegaria a hora em que as mulheres lutariam por seu espaço, porém elas acabariam sendo vítimas da própria sociedade, uma vez que, sendo obrigadas a ajudar a compor a renda do casal,  paralelo a sua libertação, estariam também abrindo mão da família, já que os filhos passaram a ser cuidados por babás e por pessoas estranhas ao lar.
Não podemos negar que as mulheres ao buscarem seu espaço e  suas conquistas deixaram um vácuo na instituição chamada família, vácuo esse ocupado pela televisão, pelas más companhias, pela solidão e mais tarde pelos computadores e a internet, videogames e toda a parafernália eletrônica.
 Sem o convívio familiar, restrito a apenas poucas horas noturnas e poucos diálogos, uma geração inteira foi criada sem a rica experiência de convívio com os mais velhos e consequentemente perderam valores e costumes que tanto fazem falta nos dias de hoje. Isso sem falar da questão da saúde e da alimentação, que pioraram consideravelmente, já que, sem a comidinha da mamãe, muitos passaram a fazer suas refeições na rua, de forma rápida, pois assim a vida moderna exige.
Bons tempos aqueles... e por incrível que pareça, ainda encontramos parte dele no interior, um dos motivos de eu estar morando por aqui. Afinal nada melhor do que um bom e típico café mineiro com pão de queijo e uma boa conversa fiada.
Modernidade, globalização, por que essa geração tem tanta pressa? Qual a graça de se fazer uma refeição em pé, em pouco tempo, ou então apenas engolir um sanduíche industrializado.
Vejo que os grandes nomes da Literatura, das Artes, da Música se perderam com o tempo, e para piorar estão sendo substituídos por uma subcultura, que dá até dó.
     Pensar que Chico Buarque, Caetano, Roberto Carlos, Clarice Lispector, Mário Quintana, Drummond, Cecília Meireles vão deixar saudades. Com a perda dos bons valores e da boa educação, das referências em todas as áreas, sinceramente, tenho pena das próximas gerações, que com certeza cultuarão cada vez mais a tecnologia em detrimento do convívio familiar.
Complicada essa questão, não há como negar que a sociedade evoluiu muito nesses últimos anos e por conta disso, também evoluíram as relações, a alimentação, a medicina e tantas outras coisas, mas por outro lado evoluíram também as doenças, a falta de paciência e outras qualidades que os seres humanos tinham antigamente.
Mas uma das coisas que faz sentir em paz comigo mesmo e ter a consciência tranquila é o fato de ter conseguido passar para minhas filhas boas maneiras, uma excelente educação, o respeito aos mais velhos, o gosto pela leitura e assim contribuir para a formação do caráter de cada uma e saber que tudo aquilo pelo qual tanto lutamos, no decorrer de nossa vida, deu certo.
Como dizia meu velho pai: educação, prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.

Um abraço do mineiro, inté...

Guaracinir de Carvalho
Amante do curso de Historia, autodidata e fotógrafo amador

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