sexta-feira, 9 de abril de 2010

GUERRA PENINSULAR: A OPOSIÇÃO AO PLANO DE DEFESA DE WELLINGTON

Apesar da vitória na batalha de Talavera (27-28 de Julho de 1809) Wellington entendeu que o avanço do exército anglo-luso até Madrid era arriscado devido às discrepâncias com o exército espanhol quanto à adopção de uma estratégia comum e à ameaçadora proximidade do exército francês da fronteira portuguesa. Além disso, a diplomacia francesa obtinha mais uma relevante vantagem para Napoleão com repercussões na Península Ibérica. O tratado de paz entre o império francês e o império austríaco (14 de Outubro de 1809) possibilitava a Napoleão a formação de um grande exército de conquista de Portugal. Com a situação militar controlada em Espanha a terceira invasão seria apenas uma questão de tempo.
Neste contexto político-militar Wellington define um plano de defesa de Portugal. O plano visava preservar o exército, evitando os confrontos directos com o inimigo, de resultados imprevisíveis. Objectivando também a defesa de Lisboa, o plano prevê a invasão das Beiras e Estremadura, retirando destas os meios de subsistência ao invasor como parte da táctica da terra queimada e constrói as linhas de defesa de Torres Vedras. As linhas de Torres Vedras articulavam-se com o primeiro objectivo ao servirem de protecção a uma eventual retirada do exército inglês por mar.
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O plano de defesa de Portugal foi apresentado em Fevereiro de 1810 aos governadores do reino. Estes concordaram com a sua execução, aparentemente sem qualquer reserva. Contudo, a 9 de Agosto de 1810, verificou-se uma alteração no elenco governativo, com a nomeação de D. José António de Meneses e Sousa Coutinho, (principal Sousa) para o governo. Na opinião do principal Sousa, a defesa de Portugal devia fazer-se em território espanhol, por meio de batalha forte e dura ao invasor para impedir a sua entrada em solo português. Estava persuadido que permitir ao exército francês percorrer o país até às linhas de Torres Vedras era condenar a economia agrária e as populações. Obrigar as populações a abandonar casas e propriedades seria não só desmoralizante como lesivo para as finanças do reino, e consequentemente para o exército pela falta de dinheiro e de homens. Pensamento incompatível com o plano de defesa de Wellington que previa a evacuação da população em grande escala e a destruição de culturas e colheitas para retirar abastecimentos ao exército napoleónico.
Outro ponto discordante dizia respeito aos objectivos militares. Enquanto que Wellington tinha por objectivo primordial a defesa de Lisboa e a retirada em segurança do exército inglês em caso de retirada, o principal Sousa pretendia a defesa da integralidade do território português através de acções militares em Espanha. Criticava as premissas militares de Wellington interrogando-se retoricamente: «Há de a fuga ser o meio de resistir ao inimigo? Há de ser a ruína das propriedades o meio de defender o reino? Há de Lisboa só considerar-se o ponto a defender em Portugal, e gostosamente hão de os povos danificar as suas fortunas para defesa desta cidade?»[1].
Queixa-se Wellington a 30 de Novembro de 1810 ao príncipe regente D. João que além dos governadores do reino não terem competências políticas nos planos e operações militares, pois só ele era responsável perante o rei português e inglês pela condução do exército anglo - luso, foram, sobretudo devido à oposição do principal Sousa, demorados em tomar as medidas necessárias para dificultar o avanço do invasor e implementar a táctica da terra queimada. Como consequência desta demora, escreve Wellington, «o inimigo há achado na Estremadura todas as coisas que não somente podiam cooperar para o seu conforto, mas até mesmo para a sua subsistência e para os habilitar a manter a sua posição em Portugal»[2].
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O general inglês responsabilizava o principal Sousa pela sorte dos acontecimentos e pedia ao príncipe regente os devidos resultados políticos da sua acção: «Há sido pois a consequência da oposição ocasionada pelo principal Sousa contra as indicadas medidas que elas hão ficado improcedentes, e parte dos territórios de Vossa Alteza Real assim como do seu povo, estão agora suportando vexames e muitos pesados sofrimentos. A influência do principal Sousa se há em uma tal instância manifestado perniciosa e por isto deixo às sábias determinações de Vossa Alteza Real o decidir se acaso será conveniente que esta personagem continue um dos membros do governo» [3].
Não conseguindo o seu intento, Wellington, em carta de 20 de Outubro de 1811 aos governadores do reino, dispõe-se a «que tudo o que se tem passado sobre assumptos desagradáveis, seja para sempre esquecido; podendo eu com segurança afirmar que não tinha inimisade pessoal contra qualquer das pessoas de quem pensei que tinha rasão para me queichar […]»[4]. O principal Sousa permanece no governo até à Revolução liberal de 1820.

Fontes:

[1] Arquivo Histórico Militar (AHM)-DIV-1-14-002-34
[2] AHM-DIV-1-14-010-53
[3] AHM-DIV-1-14-010-53
[4] AHM/DIV/1/14/002/33

Rui Manuel C. Prudêncio 

Licenciado em História pela Universidade Autónoma de Lisboa (2001), pós-graduado na mesma instituição em Ciências Documentais, variante Biblioteca e Centros de Documentação(2003).

Lisboa - Portugal

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