terça-feira, 15 de maio de 2012

RIO DE JANEIRO NA BELLE ÉPOQUE






“Balzac dizia que as ruas de Paris nos dão impressões humanas. São assim as ruas de todas as cidades, com vida e destinos iguais aos dos homens.” [1]

Na Europa do final do século XIX, e início do século XX, um movimento renovador da cultura estava atingindo seu ponto máximo. Era o início de um novo tempo, marcado por mudanças profundas na construção de uma nova sociedade.
 Esse movimento de novos estilos - variados e fortes - vinha se confrontando na cidade de Paris, expondo ao mundo as novas tendências na arquitetura, nas artes, na literatura, na música, em meio a uma efervescência de outras atividades culturais.
 Surgia a era de ouro da beleza e da inovação.
 Essas novas tendências representadas pelo Impressionismo, o Simbolismo, o Pontilhismo e a Art Nouveau invadiram toda a Europa e transpuseram o Atlântico chegando aos Estados Unidos e ao Brasil.
 O movimento ficou conhecido como Belle Époque, período em que as intensas transformações geraram modificações nos hábitos, convicções e percepções de boa parte do mundo. O sentido da Belle Époque, contudo, ultrapassava os valores materiais e  se configurava num estado de espírito, um novo comportamento, uma modificação na mentalidade social da época.
 No Brasil tais transformações vão confluir diretamente com o surgimento de uma nova classe social em ascensão, e é essa classe que absorve o modelo cultural europeu, influenciando o desenvolvimento social, político e econômico. Impondo assim uma divisão que evidenciava não mais nobres e plebeus, mas, sobretudo ricos e pobres.
 A nova burguesia republicana, proveniente das oligarquias cafeeiras, assimila o novo tempo e se adapta facilmente à velocidade com que as inovações tecnológicas invadiram o seu cotidiano. O cinema, o teatro, o automóvel, o telefone, o telégrafo sem fio, a bicicleta são apenas algumas dessas inovações, reconhecidas como a segunda Revolução Industrial.
 A cultura abria espaço para autores como Baudelaire, Balzac, Verlaine e Anatole France entre outros; a boemia estava em voga, as operetas eram o sucesso do momento e a alta costura estimulava a vaidade das senhoras da sociedade cosmopolita.
 Tais mudanças abrangem também os setores políticos e, sobretudo, econômicos, onde a diversificação de investimentos traz transformações em todos os setores da sociedade.
 Os latifundiários aliando – se a grandes comerciantes passam a investir o lucro de seus negócios na indústria, processo que acelerou o número de fábricas instaladas nas grandes cidades, incentivando assim o êxodo rural e a imigração.
  Esse processo, segundo Nicolau Sevcenko ao abordar o caso brasileiro, mostra que a sociedade passou a dividir-se em dois blocos antagônicos: o urbano e o rural[2].
 Nesse contexto está a cidade do Rio de Janeiro, capital da República, considerada o pólo irradiador de cultura, o lugar onde todas as novidades provenientes da Europa chegavam primeiro. Sede das instituições econômicas nacionais e estrangeiras mais importantes, o que a tornava o centro das atividades financeiras e com o núcleo da maior rede ferroviária do país, o que possibilitava que tais tendências alcançassem outras capitais e cidades do interior.

A situação era realmente excepcional. A cidade do Rio de Janeiro abre o século XX defrontando-se com perspectivas extremamente promissoras. Aproveitando de seu papel privilegiado na intermediação dos recursos da economia cafeeira e de sua condição de centro político do país (...) Núcleo da maior rede ferroviária nacional (...) Sede do Banco do Brasil, Bolsa de Valores e das maiores casas bancárias nacionais e estrangeiras. [3]

 Tais fatores, aliados à libertação dos escravos, ao grande contingente de imigrantes estrangeiros e à miríade de brasileiros provenientes de todas as regiões do país, todos atraídos pela possibilidade de trabalho assalariado, contribuíram diretamente para o aumento populacional, causando graves problemas urbanísticos e sanitários. O crescimento desordenado, o aumento da pobreza, a crise habitacional que acabou por gerar habitações coletivas, a disseminação de doenças e o mau uso do espaço urbano se tornaram inadmissíveis diante de uma nova realidade onde os padrões baseados no luxo, na beleza e na cultura passavam a ser cultivados.





 O Brasil entrou – e já era tempo – em fase de restauração do trabalho. A higiene, a beleza, a arte, o “conforto” já encontraram quem lhes abrisse as porta dessa terra, de onde andavam banidos por um decreto da Indiferença e da Ignomínia coligadas. O Rio de Janeiro, principalmente, vai passar e já está passando por uma transformação radical. A velha cidade, feia e suja, tem os seus dias contados.[4]

 A área social também sofre mudanças, um novo modelo familiar burguês se impõe através de uma cultura na qual a estrutura educacional francesa se torna marcante. A música, os livros, a moda e as artes são apenas alguns itens incorporados por ela. Tudo que era fino e de bom tom, era o que da França podia-se assimilar. A melhor educação era proporcionada pelos pais que podiam enviar seus filhos para as melhores instituições de ensino da Europa.

 O advento da República proclama sonoramente a vitória do cosmopolismo no Rio de Janeiro. O importante, na área central da cidade, era estar em dia com os menores detalhes do cotidiano do Velho Mundo. E os navios europeus, principalmente franceses, não traziam apenas os figurinos, o mobiliário e as roupas, mas também as notícias sobre as peças e livros mais em voga, as escolas filosóficas predominantes, o comportamento, o lazer,as estéticas e até as doenças, tudo enfim que fosse consumível por uma sociedade altamente urbanizada e sedenta de modelos de prestígio.[5]

 A velha Capital do país, contudo, estava longe de corresponder às expectativas dessa nova classe. Suja, feia, mal ventilada e infestada de pestes, carregava o triste título de “túmulo  de estrangeiros”. Estruturada ainda como uma cidade colonial, carecia de saneamento básico, transporte, abastecimento de água, saúde e segurança, o que a tornava totalmente incompatível com o novo modelo sócio – econômico. Era chegada a  hora da cidade colonial ceder lugar definitivamente para a nova “cidade burguesa”, moderna e com parâmetros europeus.  Diante desse quadro, reformas urgentes eram necessárias.
 Ao assumir a presidência em 1902, Francisco de Paula Rodrigues Alves promoveu sob a batuta do engenheiro Francisco Pereira Passos, nomeado prefeito da Capital, uma reforma urbana inspirada no modelo francês, aos moldes da que fora empreendida pelo Barão Haussmann em Paris.
 A escolha de Pereira Passos aos 66 anos de idade não foi aleatória: ainda jovem, depois de sua formatura viajou a Paris para aprimorar seus estudos em engenharia. Nesse período freqüentava como ouvinte os cursos de arquitetura, estrada de ferro, portos de mar e canais, melhoramentos de rios navegáveis, economia política e direito administrativo, enquanto acompanhava de perto as remodelações da cidade. Além disso, ele havia integrado a Comissão de Melhoramentos da Cidade do Rio de Janeiro, ainda no Império, o que o tornava perfeito para por em prática os planos do então presidente.
 Rodrigues Alves via a cidade como uma vergonha nacional, as condições sanitárias do Rio impediam a chegada de investimentos, maquinaria e mão-de-obra estrangeira. O projeto urbanístico - sanitário deveria ser executado a qualquer preço.
 A palavra de ordem era “embelezar”.

 O termo “embelezar” tem enorme ressonância no discurso propagandístico da época. Designa mais do que a imposição de novos valores estéticos, a criação de uma nova fisionomia arquitetônica para a cidade. Encobre por assim dizer, “múltiplas estratégias”. A erradicação da população trabalhadora que residia na área central(...)A construção da avenida, representou antes de tudo, um processo de expropriação ou segregação de determinadas frações sociais de uma área privilegiada (...)do espaço urbano em proveito de outras frações sociais, atuando o Estado como executor do processo(...).[6]


  Para por em prática e custear todos esses planos, seria necessário levantar uma vultosa quantia. A primeira opção foi a de tentar conseguir, sem intermediários, o empréstimo no exterior através de banqueiros europeus: as negociações, contudo, fracassaram. Pereira Passos então tratou de levantá-lo por intermédio do Banco da República no Rio. Um total de quatro milhões de libras, segundo Benchimol.[7] Aliando – se a isso, um arrocho fiscal, a redução de despesas e o aumento de arrecadação completariam o quadro financeiro.


 A renovação do porto seria o ponto de partida, seguindo - se a abertura, remodelação e alargamentos das ruas, novas formas de iluminação, demolição de cortiços, medidas sanitárias e regulamentadoras do comércio informal, dentre outras aprovadas e postas em prática pelo governo.  
 Tais medidas impulsionaram uma imensa valorização do solo urbano central, atingindo a grande massa populacional que ali se concentrava, provocando a expansão da malha urbana tanto para a zona sul como em direção à zona norte e aos subúrbios.

 “Em nove meses de reforma urbana derruba cerca de 600 edifícios e casas para abrir a Avenida Central (hoje, Rio Branco). A Ação conhecida como “bota – abaixo” obriga parte da população mais pobre a se mudar para os morros e periferia”.[8]


  Despejados de suas casas e de seus comércios, milhares de pessoas viram-se drasticamente apartadas do seu cotidiano e foram obrigadas a se instalar em outras áreas.
  Algumas dessas pessoas se deslocaram para os subúrbios Essas áreas, contudo, não constituíam uma opção para os que sobreviviam com poucos recursos, muitas vezes vivendo de biscates ou de pequenas diárias. Era opção apenas para os que gozavam de uma remuneração estável, suficiente para as despesas de transporte, aluguel de um imóvel ou aquisição de um terreno e a conseqüentemente a construção de uma casa . Aqueles que não podiam manter-se longe do local de trabalho optaram por construir casebres (mocambos) no alto dos morros, ganhando assim tempo e diminuindo as despesas com as passagens
 As ocupações desordenadas dos morros geraram comunidades sem nenhum projeto sanitário e urbanístico, um novo modelo de sociedade, segregada, sem direitos, mas com deveres a serem cumpridos e à margem da nova sociedade,  que desfilava em suas largas avenidas pavimentadas, arborizadas, iluminadas e com calçadas de pedras portuguesas formando desenhos artísticos.


 Ao mesmo tempo em que remodelava a cidade, Pereira Passos usava todo o poder discricionário do qual fora investido para criar leis que impedissem “velhos hábitos”, no intuito de coibir a presença popular. As estratégias subjacentes a essas medidas eram variadas, entrelaçavam-se: razões políticas e ideológicas ligadas às formas burguesas de desfrute do espaço urbano, razões sanitárias, econômicas e fiscais. O preço pago por essas violações sociais foi muito mais alto do que imaginavam seus instituidores e muito mais pungente do que suas vítimas imaginavam sofrer.
 Para ser vista como “habitat de pessoas civilizadas”, não bastava alterar a paisagem. Era preciso inserir “um novo povo à cidade renascida”.
 Nesse intuito inúmeras medidas foram tomadas no sentido de proibir e regulamentar práticas antigas tais como: ambulantes que vendiam bilhetes de loterias ou alimentos pelas ruas; a captura e extermínio de cães soltos e o cadastramento de todos cujos donos residissem no Distrito Federal - o que implicava num imposto anual de dez mil réis -; o ordenhamento de vacas em frente às casas, mendicância, reuniões em torno de quiosques, o uso das vias públicas como sanitário, dentre outras.
  Com tais medidas bania-se do centro da cidade uma fração considerável dos populares, dando passagem para uma burguesia emergente que queria caminhar sem constrangimentos pelas ruas de um Rio de Janeiro que se via como por espelho a Paris que desejava ser.
 Ao mesmo tempo em que promovia as reformas urbanas, ficava claro ao governo que somente elas não resolveriam todos os problemas. Havia outro fator importante a ser priorizado da mesma forma. A cidade era foco de diversas epidemias: febre amarela, peste bubônica, varíola, febre tifóide, impaludismo, tuberculose, entre outras. Destas, a febre amarela e a varíola são as que ceifavam o maior número de vítimas.
 Para esse trabalho profilático foi nomeado o jovem médico Oswaldo Cruz ao cargo de Diretor Geral da Saúde Pública, com o objetivo de erradicar os agentes transmissores.
 Embora convicto de que conseguiria extinguir as pestes que assolavam a cidade, o sanitarista encontrou pela frente não somente os problemas sanitários, mas importantes questões políticas.




A febre amarela era o maior problema sanitário da capital e a principal responsável por sua fama de cidade empesteada. O Dr. Oswaldo Cruz inicia um plano enérgico de combate através da criação do Serviço de Profilaxia Específica da Febre Amarela. A campanha consistia em dividir a cidade em distritos sanitários, sob a jurisdição das delegacias de saúde.
 Os médicos tinham a orientação de invadir os lares, interditar, despejar, internar a força, notificar, multar e intimar proprietários de imóveis insalubres a reformá-los ou demoli-los.
  Funcionários treinados, conhecidos como os “mata mosquitos”, iam pelas casas lavando as caixas d’água, limpando ralos, bueiros, telhados e calhas, removendo qualquer depósito de larvas. Os doentes eram encaminhados para o isolamento familiar ou para o desinfetório Central do Hospital São Sebastião.
 Além de todas as medidas de coação, utilizou todas as formas de persuasão na tentativa de vencer a resistência à campanha. Artigos nos jornais, folhetos educativos à população e aos médicos que em sua maioria se posicionavam contra aos métodos utilizados na profilaxia e se negavam a notificar de seus pacientes à saúde pública. Além disso, havia o apoio da missão francesa integrada por pesquisadores do Instituto Pasteur, que estavam no Rio para acompanhar os resultados da campanha e poder aplicá-las nas suas colônias. Dez anos aproximadamente foram necessários para que não se registrasse mais nenhum caso da doença.
 Das campanhas implementadas no combate às doenças que assolavam o Rio, a peste bubônica foi a que menos enfrentou problemas. Esta foi delineada sobre o ataque direto aos agentes transmissores, os ratos e as pulgas (a doença era transmitida pela picada das pulgas infectadas pelo sangue dos ratos).
  Sob a orientação do Dr. Oswaldo Cruz formou-se um esquadrão de homens vacinados que percorriam as ruas espalhando raticidas, mandando recolher o lixo, vacinando os habitantes das áreas mais infestadas como a zona portuária, notificando proprietários de imóveis para a limpeza de seus quintais e a supressão de porões.
 Outro fato interessante a destacar é a criação do cargo de “comprador de ratos”, funcionários que recolhiam os ratos mortos ou vivos pagando a quantia de 300 réis por animal, o que suscitou uma verdadeira caça aos roedores pela população. Chegando alguns ao extremo de fazer criação para depois vendê-los aos agentes.
 Nos quatro primeiros anos do século XX a doença responderia por aproximadamente 1300 óbitos, sendo que após a campanha nos cinco anos subseqüentes esse número não chegaria a 400.
 O combate à varíola, no entanto, seria o ápice da tensão entre o governo e a população. A obrigatoriedade da vacina desencadeou um descontentamento por parte da massa que já estava farta de se sentir desrespeitada e invadida pelo governo. Antes, criou - se uma revolta que, insuflada pela imprensa que batizara as novas posturas municipais como “Códigos de Torturas”, serviu de arma os políticos opositores do governo que há tempos vinham articulando um golpe.
 O plano de assalto ao poder estava sendo encabeçado por florianistas e Jacobinos[9], ironicamente patrocinados por monarquistas que haviam sido extirpados da nova política republicana.
 Todos viam no movimento a chance de manipular a insatisfação popular em prol de suas causas e assim alcançar o seu único objetivo:  reaver o poder.
 A revolta eclode. A multidão insurgida se aglutina pelas ruas em meio a discursos inflamados e palavras de ordem, tentando levar a revolta às últimas conseqüências.

As pobres mães choravam
E gritavam por Jesus
O culpado disso tudo
É o Dr. Osvaldo Cruz[10]




  O povo rejeitava os métodos usados alegando que eram pouco confiáveis e que todos os envolvidos na campanha, como policiais, enfermeiros e fiscais eram brutos e de moralidade duvidosa. Numa sociedade extremamente recatada o fato de ter o corpo exposto e manipulado por estranhos no momento da vacinação trazia constrangimento a todos.
 Dentro dessa multidão de revoltosos estavam os militares insatisfeitos com Rodrigues Alves. Generais que se aproveitaram do momento de turbulência do governo para sublevar jovens oficiais formados nas escolas técnicas de preparação de cadetes, onde o positivismo, as novas teorias cientificas e uma reorganização da sociedade era a proposta corrente.
  O plano era marchar em direção ao Catete com auxilio da massa revoltosa, depondo o presidente e instaurando o novo regime. Os planos, contudo, foram frustrados diante da proporção que a revolta  tomou. Não havia como controlar a massa enfurecida.
  Enquanto o governo tentava achar uma solução para combater os levantes, a varíola continuava fazendo vítimas e diante da emergência de uma solução e da desordem pública instauradas, o prefeito não podia mais esperar. Reage à revolta com as tropas governamentais nas ruas. O combate foi cruel e intenso, as baixas inevitáveis dos dois lados. Um rastro de mortos, detidos, exilados e um vasto patrimônio público depredado.

O governo, submerso no caos da desordem, lançou mão de todos os recursos imediatamente disponíveis para a repressão. Como a força policial não dava conta da situação, passou a solicitar todos os reforços possíveis das tropas do Exército e da Marinha. Não foi suficiente. Precisou chamar unidades do Exército acantonadas nas regiões limítrofes: fluminenses, mineiras e paulistas. Ainda assim não bastou.Teve de armar toda corporação de bombeiros e investi-la na refrega.Mas a resistência era tanta que precisou apelar para recursos ainda mais extremados: determinou o bombardeio de bairros e regiões costeiras por suas embarcações de guerra. Finalmente convocou a Guarda Nacional. Só pelo concerto inusitado dessa espantosa massa de forças repressivas, pôde o governo, aos poucos e com extrema dificuldade, sufocar a insurreição.[11]


 Diante dos fatos, uma decisão sensata é tomada: o governo recua e revoga a obrigatoriedade da vacina, permanecendo apenas a exigência do atestado de vacinação para trabalho, viagem, casamento, alistamento militar, matrícula em escolas públicas, e hospedagem em hotéis.
 A cidade que se sonhava urbanizada e saneada estava agora irreconhecível.


(...) calçamentos revolvidos, casas ruídas, janelas estilhaçadas,portas arrobadas, trilhos arrancados, restos de bondes, carros e carroças calcinados nas ruas, crateras de dinamite e petardos, ruínas de prédios incendiados, lâmpadas quebradas, postes , bancas, relógios e estátuas arrancadas, trincheiras improvisadas dos mais variados materiais, barreiras de arame farpado,perfurações de bala por toda parte, manchas de sangue, cavalos mortos, cinzas fumegantes. Um número incalculados de mortos e feridos, perdas e danos materiais inestimáveis, uma atmosfera de terror que se faria sentir até dois anos mais tarde.[12]

  Segundo Benchimol[13], o processo de reformulação e saneamento alcançou seu êxito estruturado na ação conjunta entre os governos federal e municipal nos momentos mais relevantes.
 Controlada a revolta, o Rio de Janeiro caminhava para se tornar uma cidade “livre, limpa e remodelada” deixando para trás o título de “túmulo de estrangeiros” e se transformando na “cidade maravilhosa”.


 Segundo conceito emitido à época, a “cidade chiqueiro” fora transformada em “cidade maravilhosa”, numa apoteose de jardins floridos, de grandes monumentos, com avenidas de esplêndida largura e a massa altiva e monumental de arranha - céus. Quadro contraditório!
 De um lado a cidade “limpa”, as epidemias controladas os boulevards à moda parisiense; de outro, a massa indesejada de pés – descalços, o lado cruel dessa moeda cunhada pelos “homens de visão”. Expulsa repentinamente de seus lares, impedida de manter seus hábitos e tradições, foi excluída da faceta melhor dessas transformações: o viver e transitar pela cidade saneada e remodelada.[14]

 Era o início de um novo tempo, marcado por mudanças e por um novo modelo de sociedade. Ainda hoje, no entanto, assim como no início do século XX, as estruturas arquitetônicas e urbanísticas continuam a ser implacavelmente destruídas em nome do “moderno”, do progresso.   O interesse do “capital” é o real governante dos tempos, não importando quem vai pagar o preço, quem vai ser excluído, o que vai ser apagado ou a História que deixará de ser representada.

Referências Bibliográficas:

RIO, João do. A Alma encantadora das ruas. Rio de Janeiro: Ed. Martin Claret, 2007.
                
 SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão. Tensões sociais e criação cultural na Primeira República. Brasília: Ed. Brasiliense, 1983.

____________________. A Revolta da vacina: mentes insanas em corpos rebeldes. São Paulo: Ed. CosacNaify, 2010

 BENCHIMOL, Jaime Larry. Pereira Passos: Um Haussmann tropical. A renovação do Rio de Janeiro no século XX. Rio de Janeiro: Coleção Biblioteca Carioca, 1992.

HORTA, Sandra. Artigo: Avenida Central: Contraste do Tempo. http://www.iceu.com.br/materialDetalhes.asp?id=45


1 RIO, João do  A Alma Encantadora das Ruas. Rio de Janeiro: Ed. Martin Claret, 2007.  P.03
[2] SEVCENKO, Nicolau. Literatura como Missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira República. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1983.  p. 32
[3]  Idem, p.27
[4] BILAC, Olavo. Crônicas, 1904. Apud SEVCENKO, Nicolau. Op. Cit. p.30
[5] SEVCENKO, Nicolau. Literatura como Missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira República. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1983. p.  36
[6]  BENCHIMOL, Jaime Larry. Pereira Passos: Um Haussmann tropical. A renovação do Rio de Janeiro no século XX. Rio de Janeiro: Coleção Biblioteca Carioca, 1992. p. 228
[7]  Idem  p.255
[9] Os Florianistas eram jovens formados nas escolas técnicas de preparação de cadetes onde as novas teorias positivistas e científicas propunham uma nova reorganização da sociedade através de uma ditadura militar e uma legislação baseada na proteção e assistência ao trabalhador.  Os Jacobinos eram pessoas das mais variadas atividades representadas por trabalhadores do serviço público, funcionários do Estado, profissionais autônomos, pequenos empresários, bacharéis desempregados, locatários de imóveis arruinados e desesperados pela política de Rodrigues Alves e Pereira Passos que viam no discurso nacionalista, estatizante, trabalhista e xenófobo dos florianistas a sua tábua de salvação. 

[10] RIO, João do  A Alma Encantadora das Ruas. Rio de Janeiro: Ed. Martin Claret, 2007. p. 94
[11] SEVCENKO, Nicolau. A Revolta da vacina: mentes insanas em corpos rebeldes. São Paulo:              Ed. CosacNaify, 2010.  p.33
[12] Idem p.52
[13] BENCHIMOL, Jaime Larry. Pereira Passos: Um Haussmann Tropical. A Renovação do Rio de Janeiro no século XX. Rio de Janeiro: Coleção Biblioteca, 1992.
[14] HORTA, Sandra. Artigo: Avenida Central: Contraste do Tempo. http://www.iceu.com.br/materialDetalhes.asp?id=45

 IVANA MATOS PINHEIRO TAVARES
Professora de História na rede particular de ensino de Macaé
Graduada em História pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Macaé
Macaé - RJ

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