sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A EDUCAÇÃO E OS AFRO-BRASILEIROS: BREVÍSSIMA PANORÂMICA DO SÉCULO XX

Pretendemos demonstrar, em linhas gerais, algumas ações pensadas, no século XX, por jornalistas, políticos, intelectuais e dirigentes de movimentos negros, para que  a inserção dos afro-brasileiros ocorresse nos níveis ocupacionais e de renda no mercado de trabalho nacional, bem como confirmar o quanto a educação pode influenciar o processo de construção da cidadania. 
Inicialmente, cabe trazer à luz o que os dicionários indicam sobre o termo “afro-brasileiro”. Lemos: 1. Relativo ou pertencente à África e ao Brasil; 2. Pertencente ou relativo à cultura dos afro-brasileiros; 3. Brasileiro descendente de africanos negros e ainda uma quarta definição: relativo aos africanos e aos brasileiros, simultaneamente. 
Tomaremos a definição que designa o termo “afro-brasileiro” como “o segmento populacional negro e mestiço da sociedade brasileira que descende de africanos”, indicando, conforme pensamento do sociólogo Ahyas Siss[1], a dupla implicação política do termo. A primeira, reflete o aumento no plano da consciência racial entre negros, conduzindo à formulação de uma etnicidade Afro-Brasileira. É a partir da década de 70 que o termo torna-se politicamente internacionalizado, marcando uma nova fase de luta social do movimento negro, sendo esta a segunda implicação política promovida. 
Tem-se notícia de que o emprego do termo “afro-brasileiro” deu-se em 06 de outubro de 1907, pelas vias do jornal negro O Propugnador, que integrava a chamada Imprensa Alternativa Negra – IAN.
A década de 20, marcada pela exclusão da grande maioria da população do processo educacional (considerando que apenas 25% dela era alfabetizada), trouxe um ganho quando, em 1929, por conta da crise do café, um novo modelo econômico foi implantado por Getúlio Vargas. Com isso,  deu-se a criação do Ministério da Educação e Saúde, sendo este o primeiro Ministério Público voltado para o planejamento da educação brasileira, aparecendo então, legalmente expressos, pela primeira vez,  os caracteres de obrigatoriedade e de gratuidade da educação. 
É também nas primeiras décadas do século XX que os afro-brasileiros buscam por educação, quando jornais e organizações conferem ênfase à mesma, e, consequentemente, passam a cotejar o aumento do capital educacional do grupo racial afro, lembrando que é a partir de meados da década de 20 que na história da educação no Brasil presenciamos um entusiasmo e um vigor maiores. É a Escola Nova no Brasil em oposição à “Tradicional”. 
Numa estrutura permeada de brancos, tendo os afro-brasileiros identificado a precariedade da sua educação, busca-se, nesse tempo, conhecido como o da Escola Nova, remodelar e modernizar a ordem político-social, sob o credo do liberalismo, com efervescentes debates ideológicos. 
Vale citar algumas ações empreendidas para que os afro-brasileiros obtivessem acesso à educação: jornais, movimentos, agremiações, irmandades e seminários convergem, em prol da educação dos afro-brasileiros, inobstante, muitas das vezes, o sucesso dos empreendimentos não produzirem os efeitos desejados ou se apresentarem de forma dissonante em relação aos propósitos inicialmente pretendidos. 
Destacam-se algumas organizações de ativistas tais como o Centro Cívico Palmares, o Clube Negro de Cultura Social, a Sociedade Beneficente Amigos da Pátria, o Grêmio Dramático e Recreativo Kosmos, o Clube 13 de Maio dos Homens Pretos e a Frente Negra Brasileira. 
Contudo, é a partir de meados da década de 1970 que aumenta o número de análises acadêmicas e de estudos elaborados por pesquisadores afro-brasileiros, tendo a educação como foco principal, ora de um modo geral, ora especificamente voltada aos negros e aos mestiços. Intelectuais negros como Abdias do Nascimento, Guerreiro Ramos, Ironides Rodrigues, bem como o poeta negro Solano Trindade  integram frentes criadas em favor do negro - que continua à margem, considerando-se que “a participação do segmento populacional afro-brasileiro no processo educacional formal tem ocorrido de forma lenta, acidentada e limitada”, na opinião de Siss. 
Por derradeiro, na década de 1980, com o surgimento da “Pedagogia Interétnica”, são aprofundados os estudos sobre a cultura, a literatura, a poesia, a dança, a música e a dramaturgia afro-brasileira, tempo em que estudos envolvendo o binômio Raça e Educação ou Multiculturalismo e Educação desenvolvem-se e nutrem as discussões. Discussões que precisam estar presentes nos fóruns de estudo, principalmente os da sala de aula. 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: 
SISS, Ahyas. A educação e os afro-brasileiros: algumas considerações. In: Educação e Cultura: pensando em cidadania. Coletânea organizada pela Professora Maria Alice Rezende Gonçalves. Ed. QUARTET, s/d. p. 61-86.



[1] Mestre em Sociologia pelo IUPERJ, Doutorando em Educação (UFF) e Professor do PENESB – Programa de Educação Sobre o Negro na Sociedade Brasileira da UFF.


Arquivo: Paper
“A educação e os afro-brasileiros: brevíssima panorâmica do século XX”

MARTHA ADED
Graduando em  História
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Macaé
Macaé/RJ,14/09/2010

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