Hoje, uma das maiores discussões em sala de aula, num país onde o fator religião impera de maneira generalizada, é a colocação do conteúdo sobre a Evolução das Espécies.
De modo geral, os adolescentes não aceitam de maneira integral o conteúdo exposto pelos professores e se perturbam em questionamentos internos ou até mesmo extravasando em perguntas irônicas e debochadas.
Não há como criticá-los por isso e nem mesmo podemos tentar impor opiniões pessoais sobre questões subjetivas. Cada um tem o direito de desenvolver sentimentos diferenciados no modo de objetivar seu olhar para a vida.
Entretanto é relevante ressaltar que fazemos parte de uma sociedade patriarcal, cheia de resquícios religiosos medievais onde os dogmas se fazem presentes de maneira pouco racional e muito imposta .
Chegando ao extremo de professar a fé num único Deus e ao mesmo tempo, promover uma divisão de classes, onde um grupo se separa , hostiliza, e até mesmo ridiculariza outro apenas por ostentar rótulos religiosos diferenciados.
Se tivermos paciência e sabedoria para irmos buscar os conteúdos que juntos tornariam explicáveis e com certeza menos dolorosos e contraditórios todo esse impasse, teríamos a chance de ver nossos alunos crescendo no conhecimento prático, aliado a justificativa de sua fé.
Quando lemos, nas primeiras páginas do Gênesis Bíblico, a formação do universo, onde a mistura dos elementos constroem as formas, não negamos o Poder do Ser que os manipula.
Contudo, temos que entender que esse mesmo “Ser” não cria ou altera suas formas e / ou suas funções de maneira aleatória e sem propósito. Tudo na natureza tem seu encaixe perfeito nesse sistema
Todas as coisas como não poderiam deixar de ser estão interligadas num processo criador de sustentabilidades e inteligência
Os pontos de vista se divergem então nas formas pela qual surgiram e o questionamento é; se tudo foi criado pelo simples poder da “Palavra”, como num passe de mágica, ou se a mesma “Palavra” se faz através da construção dos elementos.
Essas respostas podem buscar dentro da própria Bíblia, livro no qual se baseia todas as respostas dos que se contrariam com as colocações de uma nova versão para o crescimento e evolução dos seres sobre a terra.
No capitulo 3, da Segunda Carta de Pedro, versículo 8 diz: “Há, todavia, uma coisa, amados, que não deveis esquecer: que, para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia”.
Temos ai à explicação lógica dos movimentos da humanidade e percebemos claramente que o tempo Kairós,( tempo de Deus ) se diverge totalmente do Cronos (tempo humano ).
È licito raciocinarmos, sem correr o risco de ser herege, que Deus deu a todas as coisas seu tempo exato de construção e formação. No caso do homem, isso não foi diferente.
Sua evolução se deu no exercício de sua inteligência através da busca do conhecimento e condicionamento aos espaços em que melhor se adaptavam.
Aprendemos a andar eretos, a lidar com fogo, a nos cobrirmos do frio, a reconhecermos as fases da lua, a cozermos os alimentos, a coletar sementes e depois replantá-las, a nos agruparmos e protegemos, e a formamos uma sociedade, entre tantos outros fatores.
Há esse tempo os cientistas, fizeram suas classificações, dividiram - na em períodos, fizeram uma cronologia expositiva, assim o homem criado por Deus passa a ser a princípio o homo sapiens, do período paleolítico, com grandes probabilidades de ser africano embora a citação Bíblica lhe dê uma localização diferenciada, como próximo onde hoje é o Iraque, entre os rios Tigre e Eufrates.
Mas se partimos do pressuposto de que a área de criação pode ter dimensões amplas, não se restringindo a um pequeno espaço e como estamos falando de alguns milhões de anos, a possibilidade de ser um mesmo lugar se torna bem grande.
Na Bíblia, ainda no Gênesis, vemos a descrição de homens que através do seu aprendizado e inteligência criaram tecnologias nas formas de defesa através de suas armas feitas de ferro e bronze, inventaram instrumentos musicais como a harpa e a flauta, aprenderam a construir tendas para se abrigarem do tempo e a lidar com o gado para seu sustento. ( ver: Bíblia Sagrada , Livro do Gênesis capitulo 04 , versículos 20, 21 e 22)
Esse texto nos mostra que igualmente aos estudos científicos, o processo foi se construindo lentamente através de erros e acertos ao qual a humanidade vivencia até os dias de hoje."
Não temos respostas para tudo, mas podemos ir buscá-las.
Então pergunto, por que criarmos essas divergências tão ilógica, que só confundem e aprisionam o conhecimento das mentes em formação, e mantêm na ignorância as que assim anteriormente a receberam?
A quem interessa a intolerância e a ignorância do conhecimento aberto e continuo?
Até quando deixaremos as formas do sistema controlar aquilo que foi feito para ser livre e pensante.
O interesse pelo conhecimento deve ser estimulado, e da mesma forma que expurgada a manipulação através da omissão , seja ela por interesse ou por ignorância , mostrando que há opções as novas gerações.
O objetivo aqui não é de forma alguma desacreditar ou dar credibilidade a teologia ou a ciência, pelo contrário. O objetivo é mostrar que ambas podem ser utilizadas em sala de aula como vertentes diferenciadas e que ao mesmo tempo podem se complementar.
Só assim aprenderemos a respeitar e a conviver com a construção pessoal que cada um escolhe dar a sua vida, aliadas ao conhecimento, a fé e a evolução de um mundo onde a ignorância de qualquer origem não pode ter espaço.
Bibliografia utilizada:
Bíblia Sagrada
Versão Ferreira de Almeida
Imprensa Bíblica Brasileira
Ano: 1997
América Pré – Colombiana
Ciro Flamarion Cardoso
Editora Brasiliense
São Paulo
2004
Ivana Matos Pinheiro Tavares
Graduando em História
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Macaé